"Sorte"

Há pouco tempo, uma aprendiz leu minha sina e a todo momento ela ressaltava o quão fortes e conectadas elas estavam e o quão ramificações estas possuem. Por muitas vezes ouvi que a vida é como uma teia: por mais que peguemos atalhos e passemos pelo mesmo "encontro" várias vezes, tudo tem um inicio e um fim. Ora, como não ver a beleza nisso? Por mais que eu queira, por masi que eu fuja ou me "tirem" do caminho, o fim será o mesmo... por mais cansativo e repetitivo que seja, meu fim será o mesmo... já está escrito.
Mas, o que é destino? é o fim em si mesmo ou o caminho? É as nossas metas ou planejamento e ação para atingi-las? É quem amamos ou a rotina que nos faz aprender a amá-lo(a)?
O que é destino? Quantos destinos cabem num único destino? Quantas metas, amores e planos cabem num único caminho, numa única vida, num único amor, num único ser? Quantos "eu te amo" cabem numa existência?


O que é a sorte?

Diga meu nome

Meu nome não é Beatriz,
fui lá e venci: acadêmica, eles disseram pra mim: seu lugar não é aqui.

Meu nome não é Lelia
Mais uma esquecida, explorada e reprimida.

Meu nome não  é Dandara,
Líder negada, adolescente apedrajada, travesti linchada.

Meu nome não é Louise,
silenciada e morta pelo machismo.

Meu nome não é Mariza
morta por uma coronhada  da ao defender meus filhos, causa: aneurisma

Meu nome não é Tatiane,
Presa, julgada e condenada pela morte de meu filho assassinado pelo "pai". Eles disseram: porque você não previu?"

Meu nome é Maiara,
a preta de quebrada, a estatística ditada
Corpo violado há quatro anos eles falam: e o projetinho em casa, quem cuida?
Abre as pernas e fecha a boca... Não, minto, abre, parece de veludo... Engole!

Engole os quatro tiros na cabeça
Engole os cinco corpos atrás do muro,
Engole quando eles disseram: a milicia vai voltar
Engole o choro a cada 23 minutos

Engole, preta, puta, mucama!
Teu lugar é na cama
Universidade?
Mata em sua mãe, o desejo de ver sua filha graduada.
Melhor, mata não, porque preto não morre...
desaparece.

N° 19

Toda bêbada escreve, toda bêbada canta, toda bêbada sorrir e dá vêxame. E hoje eu bebi sonhos e emoções que escrevi nas páginas do meu corpo que espera pelo dia em que você me leia. Cantei as canções da brisa que te envolve todas as noites, da voz que ecoa em minha mente... Hoje, apenas, vê e chame.

epigrama nº 18

Como a uma taça de vinha, por ora, muito desejada,
Hoje, apenas detém um sorriso amarelo e doentio.
Seus olhos não tem luz, o olhar perdeu o foco,
Seu corpo, leve, desliza entre o chão cinzento da selva de pedra.

Ela só queria uma noite de sono tranquilo

Numa noite típica de outono tropical nascia aquela que jamais sentiria o prazer em dormir como um bebê.
Aos dois anos já haviam filas com propostas de casamento exótico,
Aos seis, seus sonhos angelicais e suas coxas de "boa mulata" sentem o peso da virilidade masculina.
Aos doze é questionada quando tua cor do pecado estará maduro para receber o varão da família,
Aos quinze, percebe olhos anciosos na parede de seu quarto.
Aos vinte, as ruas da cidade "grande" projetam a hipersexualização do padrão exportação.
Aos vinte e cinco, vultos na madrugada deleitam-se ao lado de sua cama.
Aos vinte sete, finalmente, a nega sem sandália, cercada de jasmins e margaridas, adormece tranquilamente.